Outro dia, eu estava conversando com meu irmão sobre a diferença entre a bela atuação de Ingrid Bergman, em Gaslight, e a exagerada, obsoleta e ridícula, de Charles Boyer. Alias, é comum, em filmes “antigos” ( feitos até as primeiras décadas do século passado) as heroínas , como Greta Garbo, Marlene Dietrich, Joan Crawford, Ingrid Bergman, Bette Davis, as mais recentes Grace Kelly, Kim Novak, Audrey Hepburn, continuarem, aos olhos de hoje, convincentes no seu papel, enquanto os atores que com elas contracenam nos aparecem, com frequência, canastrōes. Cheias de glamour, sedução, doçura e beleza, elas são insuperáveis, a ponto de qualquer atriz moderna se sentir orgulhosa, quando comparada a alguma .  Dos atores, por outro lado, pouco se fala. Seriam seus parceiros  piores que elas, na arte dramática, para explicar o fato de não passarem , como elas, o teste do tempo? Acho isso muita coincidência. Minha impressão é que a diferença de qualidade entre a maioria dos atores e atrizes da época que falo tem bastante a ver com a credibilidade do papel que representavam. Enquanto os homens eram os machōes, devendo transmitir a superioridade do seu sexo, elas, por outro lado, eram simplesmente femininas. Em outras palavras, os atores tinham que personificar atitudes de uma mentalidade ultrapassada hoje, e as atrizes  representar, por outro lado, atributos que, embora  não mais, ou raramente, encontrados, hoje em dia, fazem parte da essência feminina, e ressoam, então, com a audiência. Ingrid Bergman, melhor do que ninguém, representa o confiar da inocência , a entrega, e a doçura. Greta Garbo é mistério e languidez. Audrey Hepburn e Grace Kelly personificam a altivez e elegância naturais de princesas. E facil imaginar tais qualidades essenciais `a mulher, sendo ela a que vai esperar  filhos, e nutri-los; a que vai ter comunicação orgânica e direta com a inocência primeira do começo da vida;  ter paciência, amor incondicional, e a humildade de ceder seu corpo, na gravidez e amamentação, `a formação da sua criança. Claro que nessa sublime missão, encontrando-se mãe e bebê numa bolha de amor e vulnerabilidade,  a mulher deve se beneficiar da proteção do homem, assim como deve também esperar dele uma atitude deferente, em situaçōes que são mais suportáveis para ele do que para ela, devido `a diferença da condição física entre ambos. Homens não menstruam, não engravidam, não tem TPM, ou quaisquer dos sintomas de um ciclo que, hormonalmente dinâmico,  é cheio de altos e baixos, influenciando definitivamente o  bem estar, humor, em certos casos até mesmo o intelecto, da mulher. Ao contrário, o nível de hormônio no homem é estável durante o mês, e portanto confiável. Homens, por natureza maiores e mais fortes, não fazem o mesmo esforço que as mulheres, para se equilibrar de pé num ônibus em movimento, ou simplesmente carregar pacotes. Na relação sexual, o homem sai ileso com a satisfação do prazer, enquanto a mulher retém a semente, e lida com as “consequências”, se ja não se preveniu contra elas `a custa de pílulas , ou seja lá a guerra que tiveram que declarar contra os desígnios do seu próprio corpo, “guerras” que em geral deixam  resíduos desagradáveis. Em vista de tudo isso, é mais do que justificável a mulher, mesmo sendo esta capaz de fazer, profissionalmente, o que os homens fazem, merecer a deferência e proteção do homem. Mas tem este, por causa disso, que ser “o machão” caricata dos filmes antigos? Muito ao contrário. Não devemos confundir gentlemen, com machōes. Enquanto os primeiros respeitam a mulher como mulher, e assim se respeitam, como homens, os segundos mandam na companheira, a oprimem e, considerando-se superiores, colocam ascendência na quantidade maior de volume físico, quer dizer, definem-se covardes.

É preciso que a mulher e a sociedade não confundam necessidade de respeito entre os sexos, com a vontade de os igualar, justamente nessa época em que a natureza e o natural merecem reconquistar seu valor e autenticidade, pois as mulheres, por natureza, têm concavidades, enquanto homens tem saliências. Testosterona tem grande influencia  na agressividade, enquanto estrógeno na capacidade de entrega. A mulher se abre; o homem entra. Enquanto armas são saliências (revólver, espingardas, mísseis), aquilo que acolhe, como o lar, os lagos, os ambientes calorosos, são reentrâncias. A criação, a própria vida, depende do equilíbrio dessa oposição, ao invés de sua anulação. Por isso considero gentleman, o homem que  eleva e reverencia a diferença, ao contrário do machão, que se aproveita dela. Reverenciando -a, um gentleman, que cede seu lugar no ônibus a uma mulher, ou se oferece para carregar seus pacotes, ou lhe abre a porta do carro, igualmente respeita a essência feminina, e a masculina. Entretanto, muita gente hoje considera isso sexismo, como se o respeito tão longamente negado `a mulher, na sociedade machista, só pudesse existir no igualar dos sexos! Esquecem que a capacidade de criação física, de fazer nascer do seu  corpo- principio feminino que caracteriza a própria terra “mãe natureza”-  é o que tornando a mulher , fundamentalmente diferente do homem, pode fazer com que os dois se completem, e se equilibrem.

O sagrado feminino é por definição o reconhecimento de que Deus não é homem ou mulher, mas essência divina que, alem de forma e dualidade, equilibra e unifica o principio masculino e o feminino, numa imanência interdependente que tudo permea. Obviamente, o que está na essência divina é também essência, e portanto atemporal.

As qualidades personificadas nas atrizes que citei sao atemporais, e honram muito melhor a necessidade de entrega e acolhimento uterino, da parte da mulher,    assim como solicitam, do homem, o respeito e cuidado devido, que um gentleman sabe ter.  A vontade da mulher reivindicar esse respeito igualando-se ao homem, por outro lado, transmite competição. Sendo essa atitude tão abrangente,  não sei como os homossexuais, entre os quais se encontra grande parte das pessoas criativas de nossa especie, ainda não reclamaram tambêm a sua parte, na essência divina.

A ortografia, ao abandonar a possibilidade do artigo masculino abranger os dois sexos, quando o feminino esta incluído, sofreu visual e sonoramente, resolvendo especifica-los. Ficaria ainda mais esquisita, pois ao invés de se dizer, por exemplo, falando do reino de Deus, “…o reino dele/dela…” como ja muitas vezes li, se diria, “…o reino dele/dela/de ele+ ela”, ou quem sabe, “…o reino dele/dela/delea , inventando-se a palavra elea como mistura de ele e ela, ja que os gays, mesmo sem poder dar a luz, tem neles o masculino e feminino ao mesmo tempo. Diga-se de passagem, pra mim é mais fácil imaginar Marcel Proust parte da essência divina, do que Donald Trump, ou Hillary Clinton.

Se nossa busca é ser politicamente correto,  a inclusão da homossexualidade na essência divina faria sentido.( Embora não seja a mesma coisa,  Camille Paglia, cita várias divindades hermafroditas, pela história). Mas se buscamos  essências, na tentativa de se aparentar  com o divino, quanto mais se especifica, mais absurdo se torna.