O Dia Internacional da Mulher, em 08 de março, está intimamente ligado aos

movimentos feministas que buscam mais dignidade para as mulheres e sociedades mais justas e igualitárias. É a partir da Revolução Industrial, em 1789, que estas reivindicações tomam maior vulto, com a exigência de melhores condições de trabalho, acesso à cultura e igualdade entre os sexos. As operárias desta época eram submetidas a um sistema desumano de trabalho, com jornadas de 12 horas diárias, espancamentos e ameaças sexuais.

Dentro deste contexto, 129 tecelãs da fábrica de tecidos Cotton, de Nova York, decidiram paralisar seus trabalhos, reivindicando o direito à jornada de 10 horas. Era 08 de março de 1857, data da primeira greve norte-americana conduzida somente por mulheres. A polícia reprimiu violentamente a manifestação, fazendo com que as operárias refugiassem-se dentro da fábrica. Os donos da empresa, junto com os policiais, as trancaram no local e atearam fogo, matando carbonizadas todas as tecelãs.

Em 1910, durante a II Conferência Internacional de Mulheres, realizada na Dinamarca, foi proposto que o dia 08 de março fosse declarado Dia Internacional da Mulher em homenagem às operárias de Nova York. A partir de então esta data começou a ser comemorada no mundo inteiro como homenagem às mulheres.

E dentro das comemorações do mês da mulher, o Centro Cultural Municipal

Laurinda Santos Lobo presta uma homenagem as nossas mulheres artistas,

apresentando no próximo sábado, dia 14, às 16h, a exposição “Guardo Todas as Marias em Mim”, com curadoria de Roberto Tavares. A coletiva exibe obras autorais, dentro dos universos poéticos das artistas Ana Prado, Ana Tavares, Cris Cabus, Cristina Secco, Denize Torbes, Grasi Fernasky e Helenice Dornelles.

Nos trabalhos apresentados serão exploradas linguagens e conceitos diversos, dentro de um foco contemporâneo, por meio de pinturas, cerâmicas, fotografias, esculturas, objetos e instalações. Afirmam, assim, uma produção artística de múltiplas propostas, com diálogos que mostram toda a força sensível do feminino.

Ana Prado: “Guardo Todas as Marias em Mim, no outro, na natureza. Guardamos todos os seres na totalidade, habitamos todas as coisas e todas as coisas habitam em nós. Símbolo de equilíbrio Ying e Yang são as energias originárias contidas em um círculo. Esse trabalho busca reativar essas energias em todas as Marias com essa simbologia, cheias de ternuras e cuidados, força e razão, que têm o feminino e o masculino coexistindo em busca do equilíbrio, mais que necessário para tempos tão difíceis”.

Nas obras de Ana Tavares, a memória, o tempo e a infância fazem uma ponte afetiva entre o passado e o presente. Mesclando pintura, desenhos e colagens, a artista resgata, imprime e interfere, criando assemblages e ressignificando suas memórias em uma identidade própria, contemporânea. Contrapondo a delicadeza de suas obras com a força das mensagens, Ana Tavares reflete a presença de um saudosismo latente.

“De tudo cabe no peito… no meu, no seu, nos delas. Alimento primeiro e o afeto de sempre, nele cabe o amor, a dor, a coragem, a leveza, o medo, a indignação, o desejo e o prazer. ‘O que Vai no Meu Peito’ constitui-se de muitos seios modelados em argila – material que fala de origem e da mãe Terra, deusa que nos embala e protege – cada um de base circular, o que remete ao caráter cíclico da psique feminina. Seios nus de mulheres múltiplas, contraditórias, frágeis, empoderadas…intensas”, explica Cris Cabus.

“A série ‘Profanus’ foi iniciada com um pequeno coração de cera (ex-voto) comprado no Santuário de Fátima, em Portugal. Aquela peça singela e impregnada de significados e desejos me inspirou a esculpir minhas próprias peças em argila, que, combinadas a outros materiais (porcelana, prata, cristais), ganharam novos sentidos. Essas ‘Pequenas Instalações’ abordam as relações afetivas e familiares em suas múltiplas nuances, sendo estas ternas, frustrantes ou dolorosas”, revela Cristina Secco.

O trabalho de Denize Torbes foi elaborado a partir da confluência entre os elementos visuais extraídos do grupo de punk rock russo Pussy Riot, que denuncia a repressão e a supressão dos direitos das mulheres, e os Kadiwéu, povo indígena brasileiro, que, com o comércio das cerâmicas confeccionadas e pintadas somente pelas mulheres, garante, sobretudo, a preservação de sua terra, de seu povo e de sua cultura.

Pensando no jogo as cinco Marias, Grasi Fernasky criou a instalação nomeada Múltiplas. Na contemporaneidade são diversas Marias que existem em uma só. A obra representa as mulheres que diariamente buscam suas realizações e representatividade na sociedade.

O tema do trabalho de Helenice Dornelles é a cor em si mesma, conservando-a pura e simples. A artista desenvolve uma pintura isolando e ampliando pequenos detalhes e ambientes no interior de sua casa. Ali, objetos do cotidiano assumem

singulares proporções e significados sobre a tela. E a partir daí se inicia um permanente jogo de formas, composições e colorido.

A exposição poderá ser visitada até 12 de abril. O Centro Cultural Municipal Laurinda Santos Lobo fica na rua Monte Alegre 306, em Santa Teresa.