Folhas soltas com definições de vinhos associadas à poesia ou às artes, encontradas no arquivo de Paulo Mendes Campos, sugerem que ele seguia o conselho de Baudelaire no poema em prosa intitulado “Embriagai-vos”. “Enivrez-vous”, no original, consta da seção Le Spleen de Paris e convoca o leitor a se embriagar para não sentir o horrível fardo do tempo que o arrasta à terra. É preciso estar sempre bêbado, clama o poeta francês. Mas, de quê? pergunta ele no segundo dos três parágrafos do texto: “De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha” – responde ele mesmo.

Os dois primeiros elementos – vinho e poesia – recheiam as definições de Paulo Mendes Campos. O que não se sabe é por que ele usou canetas de cores diferentes em cada frase. Depurava o texto. Planejava efeito visual em uma possível publicação? Então, por que já nesse momento de elaboração aplicava o colorido? Não seria mais lógico tratar disso quando desse o texto por terminado?

Deleitava-se – pode-se pensar. Estava aposentado como técnico da Empresa Brasileira de Notícias, antiga Agência Nacional e hoje Agência Brasil, havia pouco tempo e, certamente tomando um bom vinho, sem abandonar o fiel uísque, podia se dedicar à realização do que lhe viesse à cabeça, inclusive colorir frases.

Foi como diletante, no melhor sentido do termo, que nessa mesma época ele começou a estruturar um jornalzinho de 20 edições, com oito colunas cada, publicado sob o título de Diário da Tarde. Para isso, pinçou notas ou esboços de seus mais de 50 cadernos, coletou textos já publicados na imprensa e compôs, entre outros, o “Bleu blanc rouge”.

A íntegra do texto de Elvia Bezerra sobre essa história pode ser acessado no site do Instituto Moreira Salles.