Habitualmente o binômio cultura e inclusão já nos faz bem ao coração e reinstaura nossas esperanças na sociedade. Mas, nesse contexto, a professora carioca Marcia Cardoso não se conteve em tirar adultos do exclusivo universo do analfabetismo, ela conduziu os alunos do seu projeto ao audacioso – e nem por isso impossível! – sonho de se tornarem escritores. Nunca a expressão “escrever a própria história” pareceu fazer tanto sentido.

Foi o que aconteceu a turmas de alfabetização de adultos do CIEP Nação Rubro Negra, no Rio, que escreveram – e lançaram! – seus próprios livros. “O perfil das turmas é de alunos que aprenderam a ler recentemente, muito engajados e envolvidos com os estudos e a escola. Embora esteja situada em um local nobre do Rio de Janeiro, nossos alunos, em grande maioria, são oriundos das comunidades da Rocinha e do Vidigal. A faixa etária de 16 a 70 anos”, conta a professora de Educação de Jovens e Adultos (EJA) Marcia Cardoso, que coordena a iniciativa.

O projeto surgiu por meio de uma ONG chamada Associação Parceiros da Educação RJ, que sempre admirou o trabalho do ensino noturno realizado no CIEP Nação Rubro Negra. A ONG ofereceu o projeto da Estante Mágica – empresa que fabrica os livros e auxilia os alunos a fazê-los, por meio de um site bem simples. Quem financia a inciativa é a empresa Football for a Cause, apresentada ao projeto pela Associação Parceiros da Educação, e não resistiu.

De analfabetos a escritores

Os livros foram o resultado da continuação do curso de alfabetização. Orientados pelos professores, a fim de estimular a capacidade narrativa, cada aluno tinha como dever de casa anotar em um caderno tudo que se passava no seu dia. Nesta espécie de diário, à medida que iam aprendendo a montar palavras e frases, os estudantes escreviam suas histórias. E eram avaliados pelos professores.

A partir destes diários usados como instrumento de aprendizagem, foram surgindo os livros, individuais, agora lançados. Muitos dos estudantes optaram por manter o estilo de biografia originalmente proposto pelo método pedagógico. Pontuadas de notas de desenvolvimento da autoestima e pela sensação de inclusão social, histórias de vida antes e depois da alfabetização estão presentes nas páginas.

Mas há também quem preferiu criar uma história de ficção. Caso de José Cardoso, também conhecido como Cacá. Trabalhando há mais de 40 anos como jardineiro do Clube de Regatas do Flamengo, sua obra gira em torno de duas amigas que estavam cozinhando e, de repente, sentiram falta de um ingrediente para finalizar o prato. Elas não tinham dinheiro para comprar, mas uma delas cultivava uma horta.

A partir daí, o aluno recém-alfabetizado usou sua capacidade de abstração para criar uma narrativa idílica e cheia de referências à relação do homem com a natureza. Nas palavras da professora Marcia Cardoso, o projeto foi uma experiência enriquecedora, capaz de estimular a turma. “E nós, professores, pudemos avaliá-los de uma forma bem leve, sem que eles percebessem. E o resultado? Livros maravilhosos!”, entusiasma-se Marcia.

Interessados em conhecer o projeto e em contribuir podem contatar a professora Marcia Cardoso pelo telefone 21 9828 17186.