Tudo é celebração na 24ª edição do Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília, que acontece de 17 a 29 de outubro, no CCBB Brasília. Em formato especial, o maior festival das artes cênicas da região central do país traz na programação sete obras inéditas na cidade, entre alguns dos mais premiados espetáculos dos últimos tempos, trabalhos de importantes coletivos teatrais comemorando datas festivas em suas trajetórias e premiados artistas brasileiros e estrangeiros, além de duas estreias.

Uma edição com a essência desse festival que, anualmente, apresenta um panorama do que se produz de mais inventivo, provocador e surpreendente nos palcos nacionais e internacionais. A abertura será com o Grupo Galpão, “os Beatles do teatro brasileiro”, na opinião do diretor Felipe Hirsch, com o espetáculo “Cabaré Coragem”, no dia 17 de outubro, às 20h, no Teatro do CCBB Brasília.

“Cabaré Coragem”, Grupo Galpão.

Realizado pela Cena Promoções, com curadoria e direção geral de Guilherme Reis, o Cena Contemporânea foi criado em 1985 e se firmou como um dos festivais de teatro mais relevantes da América do Sul. Ao longo de 24 edições, tem oferecido ao público uma programação que conjuga apresentações de teatro e dança, oficinas, encontros, debates e shows musicais.

Em 2023, o Cena chega com uma edição enxuta, toda realizada dentro do Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília, oferecendo três sessões com acessibilidade. Ao longo de 13 dias, o palco do Teatro e a Galeria 3 do CCBB receberão trabalhos que propõem a reflexão sobre temas que atravessam a agenda contemporânea, em questões de comportamento e convivência social, como racismo, identidade, etarismo, opressão, violência, desigualdade, medo, mas também renascimento, poesia, superação, com grande impacto cênico e visual.

Sobre o festival

A programação abre com o novo trabalho do Grupo Galpão, um dos mais longevos e consagrados coletivos do teatro brasileiro, parceiro frequente do festival. “Cabaré Coragem” celebra os 40 anos do grupo e leva para a cena uma mistura de dramaturgia, música e dança, para falar de identidade e permanência. Inspirado na obra poética e musical de Bertold Brecht – especialmente no clássico “Mãe Coragem” -, o cabaré apresenta o Galpão de volta ao teatro popular e de rua. Alguns dos integrantes da companhia vão participar de um bate-papo com o público, no dia 19 de outubro, às 15h, no Teatro do CCBB – a conversa terá tradução em libras.

“Atos de Leitura”, Teatro do Concreto.

A Galeria 3 acolhe a mais recente experiência cênica do Teatro do Concreto, coletivo de Brasília que incorpora dramaturgias pessoais, processo colaborativo e performance em suas criações. Em “Atos de Leitura”, que comemora os 20 anos do Concreto, as atrizes Gleide Firmino e Micheli Santini se aprofundam na obra de Samuel Beckett, sob a condução da pesquisa dramatúrgica dos diretores Márcio Abreu e Glauber Coradesqui.

“Enquanto você voava, eu criava raízes” é título do premiado espetáculo da Cia Dos à Deux, que marca os 25 anos de trajetória do grupo. A obra conquistou alguns dos mais importantes prêmios do teatro brasileiro, como APTR e Shell, e fez temporada de um mês no célebre Festival de Avignon, na França. Em cena está um cruzamento poético entre o teatro gestual, as artes plásticas e o audiovisual, que convida o espectador a uma jornada exuberante.

“Enquanto você voava, eu criava raízes”, Cia Dos à Deux.

Em “Julius Caesar – Vidas Paralelas”, a Cia. dos Atores, sob a direção e com a dramaturgia do ator e diretor Gustavo Gasparani, se inspira na clássica tragédia de Shakespeare para tratar das relações humanas. Todas as questões de um grupo de teatro que convive há décadas, bem como assuntos mais amplos da classe artística, vão se revelando no decorrer da trama – cruzando-se com a história original de Shakespeare, que vai se desenhando ao longo dos ensaios. O espetáculo celebra os 35 anos do grupo carioca.

“Julius Caesar – Vidas Paralelas”, Cia. dos Atores.

Do Japão, o Cena Contemporânea recebe a dançarina e coreógrafa de butoh Yumiko Yoshioka, que vai apresentar o solo “Before The Dawn” e ministrar uma oficina junto com o ator e diretor paulista Eduardo Okamoto. Em “Before The Dawn”, Yumiko toca em temas como nascimento e morte, em um movimento perpétuo e constante. Durante a oficina, a intérprete/criadora apresentará seu método de trabalho corporal chamado “Body Resonance”.

A Agrupação Teatral Amacaca, coletivo de Brasília que era dirigido pelo saudoso Hugo Rodas, estreia no Cena Contemporânea o espetáculo “2 + 2 = 5”, livre adaptação para o teatro do romance distópico “1984”, do escritor britânico George Orwell. Sob a direção do premiado encenador carioca Felipe Vidal, o trabalho mistura performance teatral e tecnológica para abordar temas como privação de liberdade, ignorância, doutrinação.

“Before The Dawn”, Yumiko Yoshioka.

E a programação encerra com o premiado “Macacos”, criado, dirigido e protagonizado pelo ator Clayton Nascimento, trabalho que lota todos os teatros por onde passa. O espetáculo se coloca em cena a partir do relato de um homem negro, em busca de outros espaços para ocupar, diante do adjetivo “macaco”, a fim de refletir sobre esse que é o mais usado xingamento ao povo negro no mundo. Com “Macacos”, o dramaturgo, ator, diretor e professor Clayton Nascimento conquistou mais de uma dezena de prêmios, como o Shell e o APCA. O artista participa de uma conversa com o público, no dia 29 de outubro, às 15h30.

“Macacos”, Clayton Nascimento.